Iniciamos o tema da oposição feita à esquerda, no concelho da Covilhã, pelo histórico e carismático Partido Comunista, que dispensa apresentações. Um partido centenário que teve a coragem para fazer congressos clandestinos durante o período da “velha senhora”, entregar o famoso “Avante!” por baixo das portas durante a madrugada, entre muitos outros episódios dignos de registo. Independentemente das preferências partidárias e da comunhão, ou falta dela, com a ideologia do PCP, todos devemos reconhecer que foi a principal força no movimento contra a ditadura, e que muito lhe devemos, por hoje vivermos em democracia.
Concretamente sobre a oposição feita na Covilhã ao PS, o PCP foi o partido mais ativo relativamente ao recente escândalo dos passes sociais. Foi organizada uma pequena manifestação no centro da cidade, junto aos Paços do Concelho. Inegável que esta ação faz parte da idiossincrasia do partido, embora tivesse apenas uma parte do resultado desejado. Talvez esta Câmara esteja a pedir outro tipo de manifestações, mesmo sabendo que Vítor Pereira, numa entrevista a uma rádio local, disse: “podem fazer as manifestações que quiserem, que eu não cedo a elas”, referindo-se à manifestação pacífica do povo de São Jorge da Beira. Trata-se de uma atitude dos tradicionais “tigres de papel” e isto só revela que se quisermos algo, temos de avançar com firmeza e convicção. Algo insólito sobre este episódio é o facto de a notícia, que foi publicada nas redes sociais por alguns meios de comunicação locais nos últimos dias de Setembro de 2020, ter desaparecido. Seja Vítor Pereira ou outro qualquer, com toda a certeza que cedem, tal como cedeu neste caso do autocarro de São Jorge da Beira. E cedeu em pouquíssimas horas! O Sr. Presidente deve ter-se esquecido que o cargo que ocupa é uma consequência da soberania do povo, pois foi este que o escolheu. Assim, da mesma forma que o escolhe, também o demite.
Sem querer menosprezar a luta que houve para a redução das portagens na A23 e A25, a luta pela redução dos preços dos passes sociais deveria ter sido tão ou mais intensa e organizada como foi a das portagens. Os passes são algo estrutural e fraturante na vida de muitos munícipes; as portagens não. Esperávamos uma participação muito mais ativa, por parte de todos os partidos da oposição, como têm vindo a fazer na reclamação dos méritos dos resultados obtidos na reivindicação das portagens.
Outro tema sobre o qual o PCP se envolveu de alguma forma foi sobre o espetáculo deplorável que CMC iniciou sobre o histórico Bairro do Património. Os moradores foram notificados por carta que passariam a pagar renda, caso contrário seriam despejados. Além de não ter havido um pingo de dignidade em dialogar pessoalmente com os moradores, o Sr. Presidente ainda declarou que esta carta oficial da Câmara foi emitida à sua revelia. Mesmo apelidando de “espetáculo deplorável”, esta é uma situação inenarrável e preferimos que seja o leitor a pensar e a retirar as suas conclusões. A oposição iniciou-se de forma popular, com os moradores do Bairro e outras pessoas a intervirem de forma decisiva para que tal crueldade não fosse avante. Mais uma vez, a Câmara cedeu, o que vem contrariar novamente o autoritarismo de Vítor Pereira quando afirmou que não cede a manifestações.
Os passes sociais e o Bairro do Património são dois exemplos muito fortes da oposição exercida pelo PCP, pois trata-se de aspetos que têm influência direta e diária na vida dos covilhanenses. Talvez o PCP deva ser mais sucinto e objetivo nas suas lutas, principalmente no que toca ao IMI, ao “IRS municipal”, ao IRC e derrama, à TOS, às águas e, sugerimos que deixem para segundo ou terceiro plano as cabines telefónicas...
De facto, o PCP tem-se vindo a manifestar, mas não é suficiente sair à rua com cartazes onde se exige abolição de portagens, apoios aos pequenos e médios empresários, apoios aos trabalhadores. Isto faz parte da genética do partido, mas nos dias de hoje é necessária uma atualização da forma como se comunica com a sociedade. Estamos em tempos de “fake news” e de outras estratégias comunicativas nas redes sociais; por isso urge uma proximidade cada vez mais acentuada com a população. É isto que tem faltado, quer ao PCP, quer a qualquer outro partido. Este afastamento entre o eleitorado e o partido tem várias causas, sendo uma delas a não demarcação do PCP face a alguns países, como é o caso da China. Um país onde a população não vota, nem tem direito a greves. Também a inexistência de reprovação da célebre frase de Enver Hoxha (líder do partido comunista da Albânia): “As massas edificam o socialismo, o Partido fá-las ganhar consciência”. As massas, hoje em dia, interpretam isto como uma tentativa de evitar que pensem. Ora, se há algo que deve ser incentivado é o pensamento crítico. Talvez o PCP possa refletir profundamente sobre tudo isto, pois em termos gerais, o Partido tem vindo, progressivamente, a perder deputados, eleitores e militantes, tal como mostra este excerto, no jornal O Público, do dia 28-11-2020.
Sendo factual a perda de popularidade do PCP, mas também sabendo que o Partido tem muito peso principalmente a nível sindical, controlando uma boa parte das direções dos sindicatos, queremos colocar duas questões que consideramos essenciais. Apresentamos estas perguntas ao professor Vítor Reis Silva, uma vez que, numa entrevista à Rádio Cova da Beira, tornou pública a sua disponibilidade em se candidatar às autárquicas 2021. Eis as questões:
1- Sabendo da força do PCP junto dos sindicatos, como explica a perda progressiva e cada vez mais acentuada de votantes no PCP?
2- Referiu na entrevista à RCB que o PCP Covilhã tem um projeto para a cidade. Qual é esse projeto?
“Ler livros não te faz melhor. Saber interpretá-los, sim.” Karl Marx
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