Saiu esta semana um artigo de opinião escrito pela vereadora da CMC, pela coligação Juntos Fazemos Melhor, Marta Alçada Bom Jesus, onde aborda a escassez de participação de juventude na vida política do país e da nossa região. Pode ler-se aqui: A política e a responsabilidade em Portugal: um apelo aos jovens - Jornal o Interior
A vereadora justifica esta inércia da juventude com a corrupção que Portugal se vai deixando envolver, no mundo político. Esta causa é um dado concreto, objetivo e sem qualquer margem de dúvida para que possa ser contestada. Temos de ser francos e assumir que a corrupção é o principal fenómeno que abala toda e qualquer estrutura do país, principalmente a democracia. E daí temos uma consequência nefasta, que é o afastamento dos jovens do setor político. No entanto, ainda vamos observando alguns registos de entradas nas “jotas” de alguns partidos, mas é algo mais do que insuficiente, pois também precisamos de jovens partidariamente independentes.
Deixamos, mais uma vez, sublinhado que estamos em total concordância com a opinião da vereadora da coligação e salientamos a mensagem encorajadora e motivacional que transmitiu aos jovens. Porém, torna-se necessário ir mais fundo, pois o tema assim o merece e, assim sendo, destacamos a estratégia premeditada do momento da publicação deste artigo. Não terá sido por mero acaso que o mesmo surge exatamente após o caso de alegada corrupção por parte de políticos afetos ao PS, mas quem está atento e conhece a história, percebe que a vereadora também terá contemplado outros casos de corrupção de políticos intimamente ligados a outros partidos….
Posto isto, e nunca desconsiderando a veracidade e pertinência do conteúdo do artigo, este peca por incompleto. Existem outras razões, não menos importantes do que a corrupção, que levam os jovens a abominar a sua participação na política; de todo o manancial de razões, apenas destacamos duas:
1- Política de proximidade quase inexistente: os políticos devem passar muito mais tempo nas ruas, nas mercearias, nos cafés, nos restaurantes, nas feiras, etc. Devem investir muito mais tempo a relacionarem-se com os eleitores, a ouvi-los e a aprenderem com eles. E como estamos a falar de jovens e não há políticas significativas para estes, deviam aproveitar para se aproximarem, ouvi-los e captarem as suas inquietações e ansiedades. Por fim, referir ainda que o investimento nas redes sociais tem vindo a tornar-se cada vez mais decisivo.
2- A tribalização da política: os políticos de hoje, de forma geral, não admitem e não aceitam de bom grado o contraditório. Pensem sobre isto! Qual a capacidade que os políticos têm de aceitar críticas ao seu partido/coligação/movimento? Quando aparece um cidadão, seja jovem ou não, a criticar um partido, a primeira reação dos seus elementos integrantes é rotular esse cidadão como “adepto” do outro partido/tribo. Existe uma crispação na política provocada precisamente por esta tribalização. Os objetivos político-partidários e político-carreiristas já foram colocados, há muito tempo, acima dos interesses do país e das populações.
Desta forma, caríssima vereadora, fica mesmo muito difícil os jovens quererem ser politicamente ativos. É um tema cada vez mais importante e decisivo, pois os jovens têm uma energia inesgotável capaz de provocar as maiores mudanças, principalmente no que toca à “política velha”, que se vem petrificando há décadas a fio.
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