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COVILHÃ - A ARTE DE FAZER OPOSIÇÃO

O artigo desta semana é apenas uma opinião nossa sobre como fazer oposição - algo tão importante quanto a governação, desde que orientada para o interesse comum. Para isso, após uma análise da oposição de cada partido na nossa cidade, vamos apresentar as nossas ideias sobre este tema. Não nos devemos opôr simplesmente por opôr, que é o que acontece no nosso concelho, após tudo bem espremido, salvo raras exceções. Este é um conceito muito mais amplo e profundo do que se imagina. A maioria dos partidos locais fá-la de forma tão redutora que a população até se sente esquecida, normalmente durante 4 anos. Oposição política implica reduzir o fosso entre os eleitores e o eleitorado. Implica ainda consciência política. Implica uma mudança de visão por parte dos governantes, líderes partidários e os demais militantes. A oposição pura é uma arte que fortalece a democracia e conduz à boa governação - ambas acabam, ou pelo menos deveriam, nas pessoas.

Qual a oposição, em termos práticos, que os partidos da nossa cidade têm feito? Os que estão representados na Câmara vão às reuniões e votam contra o orçamento e talvez contra todas as outras medidas apresentadas pelo PS. Os que não estão representados na Câmara, vão às reuniões da Assembleia Municipal e apresentam propostas que também não são aceites pelo executivo camarário e vice-versa. E a oposição não passa disto, embora tenha havido, num passado relativamente recente, concordância da oposição em determinados temas que mereciam ser rejeitados de forma cabal, mas adiante. É, de facto, um modus operandi demasiadamente leviano, pois o que se constata é uma oposição baseada em “ser do contra”. “Ser do contra” é pensar que está sempre tudo mal e não aceitar as boas decisões do outro. Ser do contra é ser intolerante, é ser obcecado e paranóico de tal forma, que se assume, sem se ter consciência disso, uma posição anti-democrática. Sabemos que cada oposição tem a sua agenda política própria, mas será que isso se sebrepõe ao interesse comum? Terão os partidos, e seus integrantes, a capacidade de separar as águas, e desvincularem-se dos interesses partidários e pessoais para irem de encontro aos interesses das pessoas? Pensem nisso.

Passemos então à apresentação da nossa sugestão:

Em primeiro lugar, queremos ser muito claros e honestos com todos os elementos e partidos do concelho - a esmagadora maioria do povo covilhanense nem sabe quem vocês são! Estamos a desenvolver um estudo estatístico sobre estas questões básicas da vida política de uma cidade; digamos que é um questionário de cultura geral sobre a política local. Assim que tratarmos todos os dados, poderão reparar que esta tese terá um forte fundamento. Se experimentarem perguntar quem são os deputados que representam o distrito de Castelo de Branco, praticamente ninguém sabe quantos são, muito menos quem são. Se perguntarem quantos vereadores tem a CMC, também não sabem. O povo sabe, de forma geral, o nome do presidente da câmara. Mas há muito boa gente que se passar pelo edil na rua, nem sabe que é Vítor Pereira que ali vai. E porquê? Porque vocês só vão ao encontro do povo nas campanhas eleitorais. Durante os 4 anos seguintes, preferem ficar no conforto do lar, ou do escritório, ou seja onde for, a enviar crónicas mensais para as rádios, e a alimentar as redes sociais, para ver se obtêm mais “likes” e “amigos”! Não discordamos que o façam, pois é um ótimo complemento, mas o que o povo quer é proximidade, quer compreensão da vossa parte, meus caros! O povo tem necessidade de ser ouvido e esclarecido e mesmo até nas campanhas eleitorais, enquanto distribuem autocolantes do partido, canetas, t-shirts e bloquinhos de notas, nem o patamar dos esclarecimentos vocês se dão ao trabalho de chegar. Vocês, no que toca à proximidade com o povo, fazem-no ao estilo de visita pascal.

A oposição, no nosso ponto de vista, assenta em vários pilares, mas vamos apenas considerar três: a) a confrontação sistemática de valores, b) a tentativa de bloqueio das pautas políticas e c) o desgaste da imagem na praça pública.

a) Confrontação sistemática de valores: aqui, resumidamente, pensamos que este tópico está invertido. Para explicar isto, nada melhor que um exemplo prático recente: o PSD Covilhã e o PCP Covilhã reivindicaram os louros da redução das portagens nas auto-estradas do interior. Quem governa a nível central? O PS. Então, PSD e PCP lutaram pela redução. Se fosse o PSD ou o PCP a governar o país, também tinham ido à luta? O PS limitou-se a observar a situação, ficando à espera dos resultados. Caso fosse outro partido a governar centralmente, também tinha ficado a observar ou ia à luta? Portanto, a nossa questão é: tratou-se de uma luta de princípio e de valor, ou uma luta de conveniência?

b) Tentativa de bloqueio das pautas políticas: tentar bloquear as pautas políticas, na Covilhã e nas circunstâncias atuais, é algo bastante difícil dado o número de vereadores. Ainda assim, existiram alguns casos que, depois de aprovados, foram desaprovados. Já relatámos alguns em artigos anteriores. Apesar desta câmara dificultar e adiar o acesso à informação por parte de alguns partidos, é possível fazê-la recuar. Deve-se intensificar cada vez mais este ponto.

c) Desgaste da imagem na praça pública: trata-se do principal investimento dos partidos. É a tal política velha. Até hoje, é aqui que os partidos se têm baseado para fazer oposição. Denegrir a imagem do outro para relevar a sua. Já muito pouca presta atenção a isto. Atentemos no exemplo anterior: conseguiu-se uma boa parte do que se pretendia no que toca às portagens e entrará em vigor brevemente. Pensávamos que se seguiriam novas lutas, mas não. O que observámos foi um folclore do PSD para denegrir a imagem do PS neste tema. O PSD permitiu-se fazer um bom investimento num outdoor no Fundão com o único intuito de manchar a imagem do PS. Nunca antes visto um partido investir num outdoor e colocar os rostos de elementos de outro partido! Abençoada originalidade. O desespero em alcançar o poder é tanto que, caso surja algum Chega numa das esquinas da cidade, talvez se junte à geringonça covilhanense. Desgastar a imagem do outro até pode ser feito, desde que aliado a uma estratégia de bloqueio de pautas políticas. Porém, neste caso, o assunto portagens já estava arquivado., não fazendo qualquer sentido. É notório que o PSD assume esta estratégia, pela ânsia de poder, e porque o caso portagens é mediático. Mas em vez de pagarem por um outdoor com membros do PS, podiam ter gasto o mesmo dinheiro exibindo alguns elementos do PSD. Uma autêntica perda de tempo...e de dinheiro!

Assim, gostávamos de apresentar uma ideia que talvez fosse interessante: durante os 4 anos de governação, todos os partidos, inclusive o que governa, seja coligação ou não, podiam realizar sessões abertas regulares pelas várias freguesias. Faziam a devida divulgação e descentralização dessas sessões para ouvirem, com muita atenção, o que as pessoas têm para dizer. Cuidado redobrado, pois estas sessões não servem para fazer lavagem cerebral aos eleitores, mas sim para estes serem ouvidos com muita atenção. É um momento em que as figuras da política local dão a palavra aos eleitores e temos a certeza que têm muito a aprender com eles (um bom caminho a seguir é falar cada vez menos, e ouvir cada vez mais). Elaboravam um documento e exigiam uma resposta e um compromisso por parte da Câmara. A partir daqui, caso acontecesse o que tem vindo a acontecer desde 2013, que é um descaso generalizado pelas necessidades dos covilhanenses, o povo já saberia onde teria apoio nas próximas eleições. Só isto já iria contribuir para uma reflexão e debate por parte da população. De forma evolutiva, as pessoas vão ganhando, por elas próprias, uma maior consciência política e, quem sabe, vai surgindo uma progressiva diminuição da abstenção. Salientamos que não são os partidos que têm de oferecer consciência política às pessoas; são estas que a vão adquirindo, cada uma a seu tempo. E até pode acontecer a alguns “pesos pesados”, que se encontram atualmente pelas ruas da amargura, alcançarem melhores resultados para, no mínimo, terem a vereação na CMC. Fica-vos muito bem apelar ao voto e desejar a eliminação da abstenção, mas antes disso é preciso que o povo tenha a devida consciência e consequente interesse pela vida da polis. É preciso estar perto deles com muita frequência. É preciso mostrar-lhes que vocês estão com eles, independentemente das suas escolhas.

Por exemplo, Carlos Pinto fez, com bastante regularidade, reuniões abertas da CMC pelas várias freguesias. Uma medida que deveria ser seguida. Além de irem ao encontro das pessoas, mostram confiança no trabalho que estão a desenvolver, e é precisamente isto que não tem acontecido desde 2013. Não é necessário pedir a presença da PSP numa AM, como sucedeu em 2008, “pois somos um povo pacífico e ordeiro”. Porém, concordando ou não com certas ideologias e medidas tomadas, todos devemos reconhecer e seguir os bons exemplos. Já que esta edilidade é paupérrima no campo das ideias, principalmente pela falta delas, ao menos que se vá imitando os bons exemplos. Reuniões de câmara e até mesmo as assembleias municipais espalhadas pelo concelho é algo que deve ser retomado, pois a Covilhã é um concelho muito grande e todos contam! Ninguém pode ficar para trás!

Não sabemos se a nossa proposta é descabida ou não, mas muitas vezes alcançam-se grandes coisas a partir de ideias sem sentido. Como? Através, precisamente, da oposição à mesma - debate de ideias, argumentação, análise construtiva, tendo sempre como único objetivo o bem-estar comum. Acreditamos que é melhor ter ideias sem sentido, para depois se tentar chegar a algum lado, do que não ter qualquer ideia. Não pedimos que a câmara aceite as nossas sugestões, mas uma vez que não sabe o que fazer nem como, achamos que, no mínimo, os responsáveis deviam, de quando em vez, ausentar-se de seus confortáveis aposentos, sair à rua e ouvir a população. Com toda a certeza que encontrariam muitas e boas ideias. Até seria mais fácil adotar uma mão cheia de ideias da população, do que ficar à espera do que vai fazer a câmara do Fundão para depois fazer igual ou parecido. Mas tudo bem, tendo em conta o vazio existente desde 2013, a importação das boas ideias do vizinho, mesmo sendo uma tentativa de tapar o sol com uma peneira, não deixa de ser relativamente positivo. Acreditamos que nunca foi tão fácil fazer oposição neste concelho, substancialmente falando.

“Não há governo seguro sem forte oposição”

Benjamin Disraeli

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